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O que são os Grupos de Diálogo?

Atualizado: 26 de dez. de 2022




A metodologia dos Grupos de Diálogos é baseada na Choice Work Dialogue, desenvolvida por Daniel Yankelovich e pelo grupo canadense Viewpoint Learning. Esta metodologia foi adaptada ao contexto brasileiro e utilizada de forma pioneira pelos pesquisadores do IBASE (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), e posteriormente usadas pelos nossos pesquisadores do GEDES em estudos sobre desinformação, consumo e alimentação.

O principal propósito desta metodologia consiste no enfrentamento à lógica de dominação que são forjadas as pesquisas de opinião sobre questões políticas, onde não é permitido que os cidadãos reflitam coletivamente sobre as temáticas abordadas.

Dessa forma, a atenção principal dos Grupos de Diálogo reside não em opiniões individuais, e sim nas opiniões produzidas pela interação coletiva. É uma metodologia que possibilita aos agentes expressarem suas próprias opiniões, colocá-las em diálogo com as opiniões divergentes dos outros agentes, fazendo com que sejam novamente devolvidas a si de uma outra maneira, atingindo em profundidade seus próprios valores.

Paulo Freire (1997) define o diálogo como “uma opção de comunicação e intercomunicação com a intenção de conhecer e conhecer mais”. Na visão freiriana, é no diálogo que os sujeitos trabalham em busca de um entendimento em comum, onde possuem a percepção que cada um deles possui uma parte da resposta, e que formas diferentes de pensar podem contribuir na construção desse entendimento e são importantes na formação desse processo coletivo.

Freire entende que ao estimular à reflexão das pessoas em relação às suas condições materiais e ideológicas de vida e ao permitir que controlem suas próprias palavras, traz por consequência, a consciência e encoraja os sujeitos a estarem envolvidos nas questões políticas em que são permeados o cotidiano de suas vidas.

O diálogo como elemento central permite um ambiente no qual a escuta é tão importante quanto a fala, envolvendo todos os integrantes do grupo, sem que a defesa de uma opinião desvalorize ou ignore as outras opiniões. As ideias são apresentadas. Há um esforço para ouvir, entender e buscar fundamentos para concordar com o que é dito, permitindo a descoberta de novas formas de compreender o tema principal e aprender uns com os outros. Sendo assim, além de ser um método de pesquisa, essa metodologia pode também ser entendida como um processo educacional expandido (RIBEIRO; LANES, 2006).

O processo de formação de opiniões e suas mudanças que ocorrem no decorrer do procedimento, são analisados durante o próprio acontecimento dos Grupos de Diálogo. Yankelovich et al (2006) consideram que o processo de formação de opinião ocorre em três etapas: conscientização por meio de informações e ideias de outras pessoas; trabalhar em possíveis soluções e suas consequências e, finalmente, alinhar as soluções propostas com os valores centrais para atingir uma resolução em comum.

Deste modo, as opiniões são formadas não apenas pelo recebimento de informações, mas também, por um processo que inclui valores pessoais e a dureza que consiste na tomada de decisões. Os Grupos de Diálogo são propícios, uma vez que, oportunizam a expressão de ideias, ouvir outros pontos de vista e ponderar valores e decisões.

Os GDs compartilham com o método de grupo focal a característica de possuírem entrevistas em grupo que resultam em um discurso coletivo. No entanto, conforme explicado por seus criadores, o que os torna diferentes é o fato de os participantes serem capazes de desenvolver perspectivas sobre questões pelas quais nunca se interessaram antes.

Para atingir essa possibilidade os GD’s são divididos em três momentos principais. No primeiro, há um processo formativo, onde os sujeitos são apresentados às discussões e às situações reais e concretas que estão envolvidas na temática central. No fim desse momento inicial, é apresentada uma questão única e objetiva que se apresenta como uma questão geradora do debate.

No segundo momento, o grupo pode ser idealmente dividido em dois (para que posteriormente sejam analisadas comparativamente as opiniões formuladas por ambos grupos), onde serão apresentadas quatro alternativas que podem dar conta da questão. Eles então são estimulados pelos facilitadores, a discutirem entre si a questão central, as quatro alternativas, e possíveis outras alternativas que poderão construir coletivamente entre si a partir ou não das alternativas iniciais.

Salienta-se que não deve ser chegado apenas a uma resposta intelectual, mas também a uma ação. No terceiro e último momento, os grupos voltam a se juntar para apresentarem, analisarem e discutirem a resolução e o processo que foi realizado para chegarem a elas.

A metodologia dos Grupos de Diálogo funciona como uma lente de aumento que promove a interação coletiva, assim como, acontece na vida cotidiana, porém com um enfoque maior na reflexividade produzida pela interação coletiva. Assim, eles podem permitir uma ênfase em um tópico específico que pode não aparecer em outras metodologias de investigação ou análises sociais, e incentivar o diálogo sobre este tema.

Além disso, nessa metodologia, a autoridade frequentemente associada ao pesquisador pode ser diluída, porque nela são os participantes que coordenam a si mesmos no diálogo coletivo, e não os pesquisadores. Dessa forma, acabam por desvelar elementos que seriam raramente acessíveis em discursos individuais, mas que no diálogo enquanto método, formam uma voz coletiva. Portanto, os Grupos de Diálogo podem promover a democratização do processo de pesquisa, proporcionando interações mais dinâmicas na construção de enunciados com várias vozes.


Referências
FREIRE P. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1997, 165.
IBASE-PÓLIS. Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas. Relatório global. Rio de Janeiro (RJ): IBASE, 2006, 103.
RIBEIRO, E.; LANES, P. Diálogo nacional para uma política pública de juventude. Rio de Janeiro:IBASE, São Paulo: POLIS, 2006.
YANKELOVICH, D et. al. The next big step in deliberative democracy. Kettering Review, 2006, 5466.

 


Por Felipe Silva, bacharel em Ciências Sociais, mestrando pelo Instituto Nutes de Educação em Ciências e Saúde da UFRJ, Leme, SP.

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